Elaboração
de conceitos sobre criação e criatividade
Os conceitos de criatividade
transformaram-se com o passar da história, e suas permanências revelam-se ao descobrirmos que
este é um conceito em construção, tendo sido perpassado por diferentes
sentidos, ao longo do tempo, mas que, conforme a práxis, se reconstrói em
ciclos praticamente infinitos.
Tratar a criatividade como algo nato
à alguns, que possa gerar a desigualdade entre as pessoas esteve entre os primeiros
equívocos que geraram questões iniciais: "A capacidade de criar é uma rara
qualidade humana? É um privilégio de
alguns poucos? A criatividade só acontece nas Artes?
Para desmistificar tais questões,
verifica-se que, conforme a linguagem artística, transformam-se as características
essenciais da criação, o que faria com que a própria ideia de criatividade
também variasse, dependendo da linguagem (se é visual, se é auditiva ou
corporal). Além disso, a obra, ao ser contemplada, depende da interpretação do
receptor. Sendo assim, um dos conceitos possíveis para criação seria a
"ação humana de conceber, de inventar, gerar, de dar existência ao que não
existe, ou de dar nova forma, novo uso a alguma coisa ou, ainda, de aperfeiçoar
coisas já existentes." (HOUAISS, 2005) Decorre daí que a criatividade não
é um privilégio das Artes, portanto, é possível ser desenvolvida entre todos
que, na busca por solucionar problemas cotidianos, busquem estratégias de
superação. Assim, o potencial criativo seria intrínseco ao ser humano. De
acordo com o dicionário, pode-se entender criação como "produção
artesanal, artística e/ou intelectual; tudo aquilo que é fruto do trabalho e do
talento humano", ou "produção intelectual, elaboração de trabalho
científico, geralmente com fins práticos" (HOUAISS, 2005).
Criatividade, se entendida como
"inteligência e talento, natos ou adquiridos, para criar, inventar,
inovar, quer no campo artístico, quer no científico, esportivo etc."
(HOUAISS, 2005), é uma ideia que permeia toda a história da humanidade, com
exemplos incríveis da produção do conhecimento humano. E dessa constatação,
pode-se perceber que o potencial criativo humano varia conforme as heranças
culturais de um povo, de acordo com as tradições e as inovações, sendo possível
que tanto gêneros musicais, compositores, ouvintes e intérpretes, quanto
pensadores, sejam, ao mesmo tempo, influenciados e influenciadores, sendo a
construção social do fenômeno da criação, algo que não se dá do nada, como uma
mágica, e sim, algo que deve-se ao estudo, à busca, à mistura, à contrariedade
ou aceitação, ora das inovações, ora das tradições, envoltas pelo laço de um
domínio cultural, caso ele gere o sentimento de pertença aos participantes de
determinado grupo social.
O mundo contemporâneo têm sido palco
de um enfraquecimento desse sentimento de pertença, pois com as tendências
globalizadoras, inclusive dos gêneros culturais, ao serem adaptados ao mercado
global. Um exemplo foi a axé- music, por que quando foi tratada por Paul Simon
e Michael Jackson para ser exportada, ganhou outras roupagens, deixando de lado
algumas das tradições originárias dos terreiros de candomblé, sendo
"recaracterizadas" suas particularidades a ponto de que o regional
atingisse o mundo, de maneira universalizada, tal como esse estilo
reconheceu-se no Sudeste, sendo hostilizado por muitos, devido às
transformações pelas quais o estilo passou para agradar a um público maior.
O consumismo das artes e das
ciências pode enfraquecer a produção cultural. Enquanto a criatividade poderia
estar a serviço de toda a humanidade, parece que ela fica atrelada aos valores
mercadológicos que se dão a ela. Pode ser que a criatividade não seja
privilégio de alguns, mas é raro o artista que, com condições de garantir sua
sobrevivência, fuja dos padrões musicais em suas "criações". Com
isso, a criatividade passa a ser relativa à sociedade em que vivemos, estando
interligada à ela, o que infalivelmente, varia no padrão das criações de um
povo, resultando em muitos ritmos repetitivos, temáticas comuns, enquanto
outras sequer são desvendadas. Pode dizer que há um universo para a
criatividade, sendo possível que a genialidade tome conta do ser humano, mas em
nosso cotidiano, ser criativo é nada contra a corrente, pois criativo é estar
mais perto do humano humanizado e, o humano que se vende ao mercado, se
desumaniza, se adapta às regras que exigem bem menos do que aquilo que cada um
pode oferecer.